domingo, 2 de dezembro de 2007

Spe Salvi


O Santo Padre, o Papa, Bento XVI, deu-nos a nós e ao mundo um grande presente no dia 30 do último mês. Trata-se da Carta Encíclica SPE SALVI, sobre a esperança cristã, a segunda do seu pontificado que -- esperamos -- seja longo e glorioso!

Não é preciso ressaltar a necessidade da mensagem de esperança que o cristianismo traz ao mundo contemporâneo, marcado pelo niilismo e a descrença. Junto com a esperança, a justiça desponta, magnânima, e "constitui o argumento essencial a favor da fé na vida eterna"(n. 43)

O Sumo Pontífice faz no documento críticas ao materialismo comunista e ao ateísmo. Nos dá "lugares" onde podemos aprender e exercitar a esperança: a oração, o agir e o sofrer e o juízo final.

A oração nos traz esperança por ser a única realidade que não nos pode ser tirada pelo mundo. Mesmo sozinhos não estamos sozinhos. Deus está conosco. o Santo Padre usa o exemplo magnífico do Cardeal Van Thuan.

Devemos -- em relação ao agir e ao sofrer -- aprender que não podemos abolir o mal do mundo. Neste sentido, destacamos o sofrer pela verdade. O Papa nos diz: "a capacidade de sofrer por amor da verdade é medida de humanidade" e que "a verdade e a justiça devem estar acima da minha comodidade e incolumidade física, senão a minha própria vida torna-se uma mentira".

E o juízo final, cuja existência deve polarizar a nossa vida, tornando-se, portanto, uma mensagem, sobrebuto, de esperança. A satisfação que nos é negada nesta vida, o amor eterno que nós todos anelamos, serão plenos na vida eterna.

Após discorrer um pouco sobre o purgatório, o Pontífice Máximo termina esta parte da carta com um questionamento digno de reflexão:

Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal.

Por fim, Bento XVI nos apresenta Maria como a Estrela do Mar e Estrela da Esperança, por meio da qual o Nosso Salvador -- o Sol, a luz por antonomásia -- veio ao mundo e habitou entre nós (Jo 1, 14). Deixa, como final, uma bela prece, dedicada a Nossa Senhora, que transcrevo in integrum a seguir.

Não quis com este pequeno texto fazer um resumo da carta do Santo Padre, mas despertar a atenção dos leitores para que o leiam. Se o fizerem, lograrão grande proveito.
Vós pertencíeis àquelas almas humildes e grandes de Israel que, como Simeão, esperavam « a consolação de Israel » (Lc 2,25) e, como Ana, aguardavam a « libertação de Jerusalém » (Lc 2,38). Vós vivíeis em íntimo contacto com as Sagradas Escrituras de Israel, que falavam da esperança, da promessa feita a Abraão e à sua descendência (cf. Lc 1,55). Assim, compreendemos o santo temor que Vos invadiu, quando o anjo do Senhor entrou nos vossos aposentos e Vos disse que daríeis à luz Àquele que era a esperança de Israel e o esperado do mundo. Por meio de Vós, através do vosso « sim », a esperança dos milénios havia de se tornar realidade, entrar neste mundo e na sua história. Vós Vos inclinastes diante da grandeza desta missão e dissestes « sim ». « Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra » (Lc 1,38). Quando, cheia de santa alegria, atravessastes apressadamente os montes da Judeia para encontrar a vossa parente Isabel, tornastes-Vos a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história. Mas, a par da alegria que difundistes pelos séculos, com as palavras e com o cântico do vosso Magnificat, conhecíeis também as obscuras afirmações dos profetas sobre o sofrimento do servo de Deus neste mundo. Sobre o nascimento no presépio de Belém brilhou o esplendor dos anjos que traziam a boa nova aos pastores, mas, ao mesmo tempo, a pobreza de Deus neste mundo era demasiado palpável. O velho Simeão falou-Vos da espada que atravessaria o vosso coração (cf. Lc 2,35), do sinal de contradição que vosso Filho haveria de ser neste mundo. Depois, quando iniciou a actividade pública de Jesus, tivestes de Vos pôr de lado, para que pudesse crescer a nova família, para cuja constituição Ele viera e que deveria desenvolver-se com a contribuição daqueles que tivessem ouvido e observado a sua palavra (cf. Lc 11,27s). Apesar de toda a grandeza e alegria do primeiro início da actividade de Jesus, Vós, já na Sinagoga de Nazaré, tivestes de experimentar a verdade da palavra sobre o « sinal de contradição » (cf. Lc 4,28s). Assim, vistes o crescente poder da hostilidade e da rejeição que se ia progressivamente afirmando à volta de Jesus até à hora da cruz, quando tivestes de ver o Salvador do mundo, o herdeiro de David, o Filho de Deus morrer como um falido, exposto ao escárnio, entre os malfeitores. Acolhestes então a palavra: « Mulher, eis aí o teu filho » (Jo 19,26). Da cruz, recebestes uma nova missão. A partir da cruz ficastes mãe de uma maneira nova: mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo. A espada da dor trespassou o vosso coração. Tinha morrido a esperança? Ficou o mundo definitivamente sem luz, a vida sem objectivo? Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra com que o anjo tinha respondido ao vosso temor no instante da anunciação: « Não temas, Maria! » (Lc 1,30). Quantas vezes o Senhor, o vosso Filho, dissera a mesma coisa aos seus discípulos: Não temais! Na noite do Gólgota, Vós ouvistes outra vez esta palavra. Aos seus discípulos, antes da hora da traição, Ele tinha dito: « Tende confiança! Eu venci o mundo » (Jo 16,33). « Não se turve o vosso coração, nem se atemorize » (Jo 14,27). « Não temas, Maria! » Na hora de Nazaré, o anjo também Vos tinha dito: « O seu reinado não terá fim » (Lc 1,33). Teria talvez terminado antes de começar? Não; junto da cruz, na base da palavra mesma de Jesus, Vós tornastes-Vos mãe dos crentes. Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo, era certeza da esperança, caminhastes para a manhã de Páscoa. A alegria da ressurreição tocou o vosso coração e uniu-Vos de um novo modo aos discípulos, destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé. Assim Vós estivestes no meio da comunidade dos crentes, que, nos dias após a Ascensão, rezavam unanimemente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. Act 1,14) e o receberam no dia de Pentecostes. O « reino » de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Este « reino » iniciava naquela hora e nunca mais teria fim. Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança. Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!