
Lembro quando efusivo de conhecer já um punhado de pessoas boas fui ter com minha querida mãe para falar das novidades da capital e da vida universitária que se iniciava. Ela estava lá na cozinha, suor a cair pela testa, uma bacia robusta de massa a tomar forma e cheia de alegria ao fazer mais um bolo para jovens noivos que iam se casar. Dentre tantos e tantos assuntos fui logo dizendo: Mainha, conheci muita gente na faculdade e vi que todos eram pessoas boas. Sem se dar por essa assertiva continuou a bater a massa do bolo e sem olhar para mim disse num tom de mistério: Meu filho, todo mundo é bom e a lua falta um pedaço. Antes de refletir na frase meu telefone havia tocado e uma dessas pessoas boas me convocava para uma reunião política. Iríamos discutir se o nosso grupo apoiaria o presidente Lula ou faríamos críticas ao seu continuísmo da política de FHC (vixe que palavreado chato). Que coisa maravilhosa! Nós temos voz ativa perante os rumos da política nacional, pensei com ares de protobacharel, crente que nossas opiniões eram importantes e iludido que os governos precisassem da sugestão de grupos estudantis para repensar sua cartilha política. Sem penetrar no mistério das palavras da minha mãe, acreditei na bondade dos outros.
Acreditei na bondade dos tolerantes. Dos que querem o mundo melhor, dos que lutam contra a desigualdade social... No mundo dos tolerantes vi muitas moças e logo percebi que não só suas idéias, mas também seus corpos pertenciam ao relativismo, à tolerância. Vi moços bondosos entregues aos vícios infames e degradantes e que no fundo de suas almas o anão monstruoso do interesse e do materialismo rugia ferozmente. Vi homens bons, cuja amizade se conserva a partir do que se pode alienar para que se engrandeçam às custas dos outros. Sacrifícios, poucos. Eis a bondade pós-moderna, onde o subjetivismo crônico não pode permitir frutificar o sacrifício que uma verdadeira amizade impõe.
É mainha, naquele dia estava apressado em ser bom como eles, não escutei bem suas palavras e mesmo não entendi. É uma pena. Hoje quando lembro sorrio, e digo na minha consciência quando vejo mais um cooptado por esse mal subtil e anestésico: Todo mundo é bom e a lua falta um pedaço. Podem ter certeza, caros leitores, o pedaço da lua não fui eu quem roubou. Espero que você também fique quieto e deixe a lua intacta.
Antônio Manuel da Silva Filho
24 – XI – 2007
2 comentários:
É, prezado Fidel. Não dá para encontrar gratidão em boa parte do tempo empregado na Faculdade, embora eu ache que se trata de uma coisa mais ampla, de características dessas pessoas não diretamente relacionadas só à FDR, mas à cidade, a esse urbano que nos rodeia. Bem, coisa complicada... que se sente na nuca, a franzir o cenho e, no depois, aliviar o fôlego com um resvalado desgosto.
Meu caro poeta Fidel, sábio o conselho de tua mãe e poetisa: Todo mundo é bom e a Lua falta um pedaço. Não é a toa que transpiras belas palavras...
E eu, por caminhar o mundo entre letras, ser amiga por entre versos e poesias, esmagarei o código de conduta social e dar-te-ei (mesmo que se quer tenhas pedido) um conselho breve nesta vida: A Lua falta um pedaço, não obstante, da parte faz-se um todo. E Lembro-me que o Poeta dos poetas, com Sua excepcional sabedoria, nos presenteou com 4 fases. Aos de corações puros como de uma criança: Um dia ao mês (salvo se azul ela estiver). Aos que donominaste de bons: Três fases e os dias restantes.
Ao primeiro: "A parte do todo é um todo"
Ao segundo: "sem a parte, o todo não é um todo"
Eu acredito na Lua cheia!
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